Brotamos do desejo de estarmos novamente juntas. Recuperar esse trabalho e convívio coletivo que os tempos pandêmicos enclausuraram dentro das casas. Sentíamos saudades dos encontros, das trocas do corredor, do contato olho a olho, do café partilhado, da acolhida. Queríamos recuperar um certo movimento. Sabíamos que sozinhas andávamos bem, talvez tenha sido este um dos duros aprendizados da pandemia, mas queríamos mais, para andar melhor.
O nosso desejo nunca foi de uma unidade, de uma monocultura. Somos diversas. Sempre fomos. As trajetórias, escolhas, caminhos, leituras e fontes que cada uma de nós bebe, não necessariamente são as mesmas. Mas essa diferença nunca foi impeditiva para nossas partilhas. Muito antes pelo contrário. A diferença não é apenas respeitada, mas desejada. E isso era que queríamos para nossa casa. Se o ecossistema sustentável na natureza é esse em que transborda a diversidade, porque num coletivo, numa casa, seria diferente?
Mas se queremos ser casa, como iniciar pelo digital? Parece em partes contraditório, não? O dicionário diria que casa, é substantivo feminino que indica construção, edifício de vários tamanhos e formatos usado geralmente para morar, ou ainda, espaço para encontros, reuniões de famílias ou pessoas com assuntos afins, parecendo sempre remeter a uma espécie de estrutura física bastante concreta.
Todavia, como bom grupo de psicólogas que somos, esse lugar casa costuma representar muito mais. Quase um sentimento, por exemplo, de quando tomamos algo quentinho depois de ter pegado uma chuva, ou nos comunicamos só pelo olhar com algum amigo, ou quando temos um tempo entre uma atividade e outra do dia e conseguimos olhar o sol, as árvores e só estar, ou ainda, quando ganhamos um abraço apertado de alguém querido que nos ajuda deixar sair um choro doído.
Para esta espécie de casa, não é preciso paredes de alvenaria. E é essa casa-sentimento que buscamos nas nossas ações. É por isso também que a acolhida, o afeto e a qualidade das ações são as ferramentas que guiam o ritmo e a ética do trabalho.
Que cuidado, generosidade e excelência da casa cultiva. Já me senti acolhida e vista como ser único que sou. Entendo que em meus dois anos de terapia evolui muito, exatamente por esta forma de olhar e que este será um espaço de encontro com o outro, consigo e com o mundo.